Repressão na Academia de Ciências: Acadêmicos dão palestras uns aos outros na prisão
Durante uma invasão da polícia à Academia das Ciências de Belarus no início de novembro, foram detidos pelo menos 44 funcionários. Processos criminais foram abertos contra alguns deles. Agora todos os detentos estão sendo demitidos.
Entre os detidos estava Aleh Davydzenka (71), Doutor em Ciências Biológicas, e sua esposa Natallia. O casal é acusado de “organizar, preparar ou participar de ações que violam grosseiramente a ordem pública”, o artigo de protesto mais comum. O motivo da detenção foi uma foto do casal com um cartaz de protesto “(Mandem) O Comandante-em-Chefe para a Haia”, tirada em 2020. Aleh Davydzenka estava entre cientistas que assinaram uma carta contra a violência no país após a eleição fraudulenta e saiu do sindicato oficial. O professor trabalhava no Instituto de Genética e Citologia da Academia Nacional de Ciências. Ele é autor de cerca de 300 obras científicas, entre as quais 5 monografias, e criou 19 variedades de plantas. Ele já recebeu duas vezes o Prêmio da Academia Nacional de Ciências.
O famoso linguista Siarhei Haranin, vice-diretor do Instituto de Linguística do Centro de Pesquisa de Cultura, Língua e Literatura da Academia Nacional de Ciências de Belarus, também foi detido, mas depois de 10 dias na prisão, foi libertado. Ele pesquisa as memórias e a literatura de peregrinação do Grão-Ducado da Lituânia ( Estado ancestral de Belarus – Trad.).
Depois de sair da prisão, Haranin escreveu no Facebook que deu um “curso completo de palestras sobre literatura belarussa dos séculos XI-XV aos colegas detentos. O número de ouvintes variava de 31 a 18 pessoas em uma cela para seis pessoas”. Ele também assistiu a palestras sobre diversos assuntos: mecânica quântica, doenças oftalmológicas e até mesmo sobre a história da máfia siciliana. O cientista atesta que um dos seus vizinhos de cela havia sido espancado durante sua prisão, de modo que só podia deitar-se de bruços. “Para aqueles que se lembram da União Soviética, é psicologicamente mais fácil: nós, ao contrário dos jovens, não nos surpreendemos que ‘as pessoas possam ser tratadas assim’, não esperamos nada e não acreditamos em nada”, observa Siarhei Haranin.