Administrador da comunidade ferroviária de Belarus chantageado
O administrador da comunidade ferroviária contou como a KGB propõe libertar seu irmão mais novo de 15 anos, recentemente detido em Belarus, em troca do fechamento do canal do Telegram “Live. Comunidade dos trabalhadores ferroviários de Belarus”, que publica dados sobre a movimentação de equipamentos militares russos.
A Mediazona contatou Siarhei Vaitsiakhóvitch, que administra o canal de Telegram dos ferroviários belarussos desde 2020. Sergei tem de 24 anos e trabalhou por quatro anos na ferrovia belarussa no serviço de vagões em Minsk. Em 2020, criou o canal de Telegram “Live. Comunidade dos Trabalhadores Ferroviários de Belarus”, que publica informações sobre partisanos ferroviários, repressões na ferrovia e movimentação de equipamentos militares russos pelo território de Belarus. Em maio de 2021, Siarhei deixou o país. Em 2022, o regime belarusso reconheceu o canal como “extremista”. Ele agora tem mais de 9.000 assinantes. O canal possui uma grande rede de delatores que trabalham para a ferrovia e estruturas relacionadas e enviam informações. Os administradores do canal garantem que as informações publicadas sejam confiáveis. Siarhei não administra o canal sozinho, mas por questões de segurança, não divulga nomes de outros administradores. Segundo os criadores do canal, ele é utilizado não apenas pela inteligência ucraniana.
Depois que Siarhei deixou o país, as pessoas foram à sua casa mais de uma vez para fazer uma busca: confiscaram um laptop, documentação e coisas antigas. A KGB começou a pressionar a família do administrador para interromper o funcionamento do canal de Telegram.
“Ainda em novembro-dezembro de 2022, os oficiais da KGB começaram a entrar em contato com meus pais e me pedir para interromper minhas atividades. Pela primeira vez, seis pessoas foram ao local de trabalho da minha mãe, ela é vendedora. Ela estava com medo, lógico. Eles deixaram um recado para mim, para que eu parasse de administrar o canal de Telegram. Minha mãe me passou essa informação e eu respondi que não deveriam ter medo e que me contatassem diretamente, e não por meio de meus pais. Mas eles não entraram em contato”, disse Siarhei a Zerkalo.
Em janeiro de 2023, as forças do regime detiveram Artsiom Vaitsiakhóvitch, de 15 anos, irmão mais novo de Siarhei. O motivo oficial da detenção foi o conflito de Artsiom com outro aluno. Mas no momento da prisão, o conflito havia sido completamente resolvido. Artsiom foi preso logo na escola: uma assistente social pediu para ele entrar na sua sala, e lá os policiais já esperavam o aluno. Agora o adolescente está em um centro de detenção pré-julgamento Valadarka, em Minsk. Segundo seu irmão, ele é acusado de extorsão. Depois que Artsiom foi detido, as forças do regime pediram a Siarhei, através sua mãe, para contatá-las. Elas começaram a exigir de Siarhei que fechasse o canal de Telegram e interrompesse qualquer atividade em troca da libertação de seu irmão, e começaram a enviar mensagens como: “atenda ao pedido de sua mãe e você dará felicidade à família por vários anos”, “a diplomacia é melhor que a guerra”, “atender o pedido da mãe para um homem é sagrado”, “o principal é a confiança e os passos um para o outro”, “não faça besteira”. Mas, apesar da chantagem e da pressão sobre a família, Siarhei tomou a difícil decisão de não fechar o canal.
“Depois eles iriam exigir mais. O próprio fato de eu obedecer uma vez se tornaria um gatilho para eles continuarem a pressionar”, acredita Siarhei. A mãe viu seu filho mais novo no julgamento. Siarhei diz que Artsiom está aguentando bem.